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Poema Juca Pirama e O Navio Negreiro

Versão em PDF do poema Juca Pirama
Versão em PDF do Poema O Navio Negreiro.

Vídeo: I Juca Pirama



Oficina de Redação - 06/08/2014, Carta Manifesto



Oficina de Redação - 17/08/2013



Proposta de Redação 




Textos Motivadores



Textos e slides da Oficina 









Textos Motivadores para Redação
Tema: o racismo na sociedade brasileira


Texto 1: O senhor de engenho dentro de nós

Se hoje não temos mais a pregação explícita de uma política de branqueamento, ainda estamos distantes de superar o que Joaquim Nabuco chamou de “obra da escravidão”

Luiz Antonio Simas

Éfato fartamente documentado que governos brasileiros, com apoio de parte dos segmentos mais favorecidos e de intelectuais que abraçaram a eugenia, tentaram apagar, nos primeiros anos do pós-abolição, a presença do negro da História do Brasil. Este projeto se manifestou do ponto de vista físico e cultural. Fisicamente o negro sucumbiria ao branqueamento racial promovido pela imigração subvencionada de europeus, capaz de limpar a raça em algumas gerações. Do ponto de vista cultural, houve uma tentativa sistemática de eliminar as formas de aproximação com o mundo e elaboração de práticas cotidianas (jeitos de cantar, rezar, comer, louvar os ancestrais, festejar, lidar com a natureza etc.) produzidas pelos descendentes de africanos, desqualificando como barbárie e criminalizando como delitos contra a ordem seus sistemas de organização comunitária e invenção da vida.

Se hoje não temos mais a pregação explícita de uma política de branqueamento, ainda estamos distantes de superar o que Joaquim Nabuco chamou de “obra da escravidão”. Há um senhor de engenho morando em cada brasileiro, adormecido. Vez por outra ele acorda, diz que está presente, se manifesta e adormece de novo, em sono leve.

Há um senhor de engenho nos espreitando nos elevadores sociais e de serviço; nos apartamentos com dependências de empregadas; no bacharelismo imperial dos doutores que ostentam garbosamente o título; na elevação do tom de voz e na postura senhorial do “sabe com quem você está falando?”; no deslumbre das elites que buscam “civilizar” os filhos em intercâmbios no exterior; na cruzada evangélica contra a umbanda e o candomblé; na folclorização pitoresca dessas religiosidades; nos currículos escolares fundamentados em parâmetros europeus, onde índios e negros entram como apêndices do projeto civilizacional predatório e catequista do Velho Mundo; no chiste do sujeito que acha que não é racista e chama o outro de macaco; no pedantismo de certa intelectualidade versada na bagagem cultural produzida pelo Ocidente e refratária aos saberes oriundos das praias africanas e florestas brasileiras.

Recentemente observamos a ocorrência de alguns eventos que revelam a permanência de práticas senhoriais que continuam nos assombrando. Um grupo de estudantes de Direito da UFMG realizou um trote em que veteranos se travestiam orgulhosamente de nazistas e uma caloura pintada de preto era acorrentada, portando um cartaz onde se lia “Chica da Silva”. Continua, também, a polêmica que envolve clubes de ricaços no Rio e em São Paulo que exigem uniformes identificadores das babás dos filhos bem nascidos de sinhazinhas e sinhozinhos. Temos, por fim, o siricotico de certos setores indignados com a proteção trabalhista que os empregados domésticos passarão a ter no Brasil. O argumento de que os direitos — como o FGTS — encarecerão demasiadamente o trabalho e gerarão desemprego esconde uma questão de evidente fundo cultural: o incômodo de uma elite que sempre desqualificou o serviço doméstico e é herdeira de uma das maldições que o cativeiro legou entre nós; a ideia de que a exploração do serviço braçal é quase um favor que o senhor presta àquele a quem explora. Jogam no mesmo time dos que diziam, na abolição da escravatura, que sem o seu senhor o negro quedaria desamparado.

Tudo isso nos permite constatar que o já citado Joaquim Nabuco de fato acertou na mosca. Disse ele que mais difícil do que acabar com a escravidão no Brasil seria acabar com a obra que ela produziu. É ela, a obra da escravidão, erguida em alicerces sedimentados de uma forma profunda e eficaz na alma brasileira, que até hoje nos assombra — porque nos reconhecemos nela como algozes ou vítimas cotidianas — e precisa ser sistematicamente combatida.

Luiz Antonio Simas é professor de História

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Texto 2: Desenvolvimento x cidadania

Daqui a alguns anos, poderemos ser a quinta economia do planeta, mas às custas do extermínio dos jovens, da destruição ambiental e da negação da cidadania. Na relação entre o estado social mínimo e o estado penal máximo, poderemos inviabilizar o futuro.

Vozes oficiais reproduzem, em uníssono, que o problema do Brasil seria o reduzido crescimento econômico. Alguns chegam a alimentar a falácia que a inclusão de parcelas da população no mercado de consumo de massa seria distribuição de riqueza. Discordamos dessa visão como tampouco cremos que o aumento do consumo represente real aquisição de direitos de cidadania. Os mais incautos defendem que devemos perseguir o lugar de quinta economia do mundo, impulsionando a reprimarização da economia, incentivando com astronômicas verbas públicas o agronegócio; o retorno ao extrativismo mineral; uma matriz energética suja; megraprojetos e megaeventos. Tudo isso acompanhado do aumento vertiginoso do endividamento público que, em 2013, ultrapassa R$3 trilhões (externo e interno) e do retorno das privatizações de nossa infraestrutura. A história de crescer o bolo se repete como farsa e tem reflexo direto na explosão da conflitualidade social e negação de direitos. Nas contradições da vida social e política, as opções oficiais nos levam a ser uma sociedade mais conservadora com uma economia mais conservadora.

Longe do Planalto, a população carcerária brasileira saltou de menos de 150 mil presos em meados dos anos 90 para mais de 560 mil no final do ano passado. Temos um número absurdo (aproximadamente 40%) de presos provisórios, ou seja, que ainda não foram sentenciados. Metade dos encarcerados tem entre 18 e 29 anos. Mais de 70% estão encarcerados por criminalidade aquisitiva (crimes contra patrimônio e tráfico de drogas). Quando analisamos a situação dos adolescentes o quadro se reproduz de forma mais dramática: um crescimento de quase 400% de adolescentes privado de liberdade em uma década.

Este grande encarceramento é resultado da equação Estado social mínimo e Estado penal máximo. Os anos neoliberais e social-liberais (de FHC à Dilma) mantêm a negação de direitos humanos na medida que precarizaram ainda mais políticas sociais e focalizaram seu atendimento para tão somente “administrar a pobreza”. Este cenário socioeconomico, aliado a uma estrutura histórica de subalternidades e assimetrias de poder (relativas a classe, gênero, raça, geração e orientação sexual), fizeram explodir mais conflitos nos tecidos urbanos. O mercado do varejo da droga, por exemplo, ocupa lugares vagos na estrutura política e simbólica para milhares de jovens, muitas vezes com a cumplicidade do Estado. Para controlar os “sem lugar”, ou seja, os que vivem todas as distintas misérias – a invisibilidade, a falta de acesso ao básico, a falta de voz política - foi necessário prender mais, recrudescer as penas e reduzir direitos. O real aumento da violência (que se faz sobretudo presente nas periferias), aliado à hipertrofia do medo (alimentado pelo sensacionalismo da “Datenização” de programas de tv e rádio), geram a legitimidade social para a criminalização e extermínio. Foi necessário ainda mais “punir os pobres” e perseguir o suspeito ideal.

O Estado penal máximo não melhorou nossa vida em comum. Quanto mais prendem-se negros, jovens, pobres, moradores das periferias urbanas, mais exclusão, mais etiquetamento (depois que se entra no sistema penal, ele não sai de você, com raras exceções) e, portanto, mais violência. Nunca tivemos tantos presos. Nunca tivemos tantos assassinatos (mais de 40 mil em 2012). A curva de ambos indicadores é crescente e relacionada.

A demanda de ordem e segurança, originada do medo e da segregação de uma sociedade hiperindividualista e consumista, é conservadora. Legitima fascismos do cotidiano. Acompanha as vozes obscurantistas que querem negar a cidadania homossexual, buscam reduzir a idade penal, vetam o debate sobre a legalização do aborto ou por uma nova política de drogas e silenciam frente à tortura e ao extermínio da juventude. Os conservadores têm mais espaço porque se alimentam do desespero, da falta de cidadania, incitam o ódio, bem como têm sintonia e afinidade com as opções de desenvolvimento em curso e têm legitimidade do governo central, pois são aliados. Em nome deles, o governo fez recuos em temas estratégicos para política de direitos humanos, tais como: o direito à memória e verdade; a ampliação dos direitos reprodutivos e sexuais; uma nova política de drogas ou novas formas de gestão penal. O caminho para que Feliciano esteja onde está foi palmilhado com ladrilhos também cimentados nesta governabilidade. As contradições do governo permitiram abrir lugar para muitos Felicianos.

A agenda estratégica de direitos humanos que defendemos deve saber relacionar o nosso lugar de latinoamericanos, brasileiros, nordestinos; a historicidade desta sociedade ainda racista, machista e homofóbica; a diversidade étnicocultural; o passado/presente de violência institucional; mas, especialmente, um padrão de produção da vida material e de exercício de democracia real que não seja ditado pela lógica perversa do crescimento ilimitado às custas da destruição ambiental e da dignidade humana. Direitos humanos devem ser instrumentos que nos permitam garantir a dignidade presente e reescrever o futuro. A sociedade que queremos não é de dor, morte, segregações e discriminações. De nada nos adiantará sermos a quinta economia do planeta em 2017 se isso for atingido às custas do extermínio, da criminalização dos jovens, da destruição ambiental e da negação da cidadania a todos e todas.

art. 26

“A educação deve visar a plena expansão da personalidade e o reforço dos direitos do homem e das liberdades fundamentais; e deve favorecer a compreensão, a tolerância e a amizade entre todos os grupos raciais ou religiosos (...)”

Trecho do artigo 26 da Declaração Universal dos Direitos Humanos

Renato Roseno é advogado de Direitos Humanos

ESPECIAL PARA O POVO

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Vídeo: Racismo no Brasil - Preto no Branco - Nem Tudo é o Que Parece



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